Lideranças da esquerda defendem que o governo use o plenário para pautar temas próprios, mesmo correndo o risco de perder, como forma de evidenciar o alinhamento do centrão a setores do mercado e do agronegócio. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) diz que o bloco se “bolsonarizou” e que o futuro adversário de Lula em 2026 sairá dali. Rui Falcão (PT-SP) reforça a necessidade de disputa política aberta e mobilização social para pressionar o Congresso e recuperar a identidade histórica da esquerda, que, segundo ele, se distanciou das periferias.
Analistas políticos avaliam que o cenário é favorável a Lula, com o campo bolsonarista desorganizado e o centrão sem liderança clara. Leonardo Belinelli, da UFRRJ, aponta que fatores externos, como o tarifaço de Trump e a rejeição à PEC da Blindagem, contribuíram para a atual maré positiva. Já Christian Lynch, da UERJ, enxerga um arrefecimento do conservadorismo, mas alerta: a base governista segue minoritária e acumula derrotas no Legislativo, o que limita a governabilidade.
Na prática, o governo tenta inverter a lógica tradicional de articulação política: em vez de se ajustar ao centrão, busca caracterizá-lo como símbolo do atraso. Essa ofensiva retórica, porém, carrega riscos. Se por um lado reforça a identidade de esquerda e mobiliza a militância, por outro evidencia a fragilidade de um governo que depende de uma base congressual dispersa para aprovar medidas estratégicas.
Fonte: Com informações da Folha de S.Paulo
Foto: FABIO RODRIGUES POZZEBOM/Agência Brasil