Desde o início de maio, a venda de pescado em Natal vem sofrendo um forte impacto após a intoxicação alimentar de 13 pessoas que consumiram peixe em um restaurante da capital. O episódio, associado à presença da toxina ciguatera encontrada na espécie arabaiana, resultou em internações e gerou temor entre consumidores, provocando uma queda em feiras e pontos tradicionais do comércio. Apesar disso, a Vigilância Sanitária de Natal (VISA Natal) afirma que não há motivos para evitar o consumo de peixes, tratando o caso como uma “fatalidade”, sem possibilidade de ser identificada anteriormente.
Segundo José Antônio de Moura, chefe da VISA Natal, das pessoas que apresentaram sintomas de intoxicação alimentar, todas se recuperaram. Embora as investigações estejam em andamento, ele garante que não há evidências de falha no preparo ou conservação dos alimentos no restaurante. “A toxina não tem cheiro, cor nem sabor, e não se degrada com o cozimento. Nenhum estabelecimento, por melhores que sejam os seus procedimentos, tem como identificar um peixe contaminado por ciguatera antes do consumo”, explica.
A ciguatera é uma toxina marinha produzida por algas presentes em recifes que contamina pequenos peixes herbívoros e, em seguida, peixes maiores da cadeia alimentar. De acordo com José, o evento é raro no Brasil, com registros mais frequentes no Caribe e em Fernando de Noronha, e que só passou a ser monitorado oficialmente pelo Ministério da Saúde a partir de 2022.
Na Feira das Rocas, onde há décadas se vende peixe fresco direto do litoral potiguar, o impacto do medo da população é perceptível. Elione Paulino, 43, atua no ramo desde a infância e relata prejuízos nos últimos dias. “A gente vive disso, mas prejudicou. As pessoas chegam com medo e aí temos que explicar e tranquilizar”, afirma. Atualmente, a feirante vem comercializado espécies como atum, pescada branca e robalo, mas mesmo sem ter arabaiana, sentiu queda na venda de todos.
Francisco de Assis, 69, também sentiu a baixa procura. Vendedor há mais de oito anos no setor, ele afirma que costumava vender cerca de 30kg de peixe por dia. Agora, compra a mesma quantidade, mas sai com menos da metade. “O povo chega com medo de morrer. Medo de veneno, mas não tem veneno não”, desabafa. Francisco, que antes comercializava regularmente a arabaiana, decidiu retirar da banca por falta de saída.
Por não ter relação com a prática do restaurante, a Vigilância não emitiu nova orientação aos comerciantes e também não determinou qualquer tipo de fiscalização adicional em outros estabelecimentos. “Não houve necessidade. Não foi uma falha do restaurante, nem há um mapa de contaminação. Não tem motivo para alarde. Nós estamos em uma região privilegiada, com um litoral rico em pescados de excelente qualidade”, afirma o chefe da Visa Natal.
Apesar do temor existente, a VISA Natal reforça que a população pode continuar consumindo pescado normalmente. “Não há nenhuma razão para deixar de comer peixe. Foi uma situação pontual, uma fatalidade. Não há recomendação para restringir ou suspender a venda de nenhuma espécie. O que deve ser feito são os cuidados habituais na escolha e preparo dos alimentos”, afirma José Antônio.
Esses cuidados incluem verificar se o peixe apresenta escamas firmes, olhos salientes e brânquias avermelhadas. Além disso, o consumidor deve observar se o produto está acondicionado corretamente, com controle de tempo e temperatura, e se o local da compra apresenta boas práticas sanitárias.
Em caso de suspeita de intoxicação ou denúncias, a população pode entrar em contato com a pasta através do WhatsApp (84) 3232-9435, e-mail urrnatal@gmail.com ou no aplicativo Natal Digital, disponível para sistemas Android e iOS.
Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Magnus Nascimento