Decisão que baseou Operação Contenção revela rotina de tortura e domínio armado do Comando Vermelho na Penha
A decisão da 42ª Vara Criminal do Rio de Janeiro que deu origem à Operação Contenção, deflagrada na última terça-feira (28), expõe em detalhes a estrutura hierárquica e violenta do Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha e em comunidades próximas. O documento, assinado pelo juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço, relata o uso sistemático de tortura, o controle armado de moradores e a expansão territorial da facção em áreas dominadas por milícias.
O magistrado decretou a prisão preventiva de mais de 60 suspeitos, entre eles Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”, apontado como principal liderança do CV no estado, e Pedro Paulo Guedes, o “Pedro Bala”. A decisão também cita outros nomes de destaque, como Carlos da Costa Neves (“Gardenal”), Washington César Braga da Silva (“Grandão” ou “Síndico da Penha”) e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues (“BMW”), que seriam responsáveis por comandar operações armadas, aplicar punições e coordenar o tráfico em diferentes comunidades.
As investigações tiveram início a partir de uma denúncia anônima recebida em janeiro deste ano e foram conduzidas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Segundo o inquérito, o grupo mantinha uma rotina de reuniões, mensagens e vídeos que mostravam a divisão de tarefas, transporte de drogas, monitoramento de viaturas e aplicação de castigos físicos contra moradores considerados desobedientes. Um dos vídeos citados na decisão mostra uma vítima sendo torturada e arrastada por um carro, enquanto outro registro exibe um homem ensanguentado implorando para ser morto.
Na decisão, o juiz destaca que há provas suficientes da prática de crimes de tortura e associação para o tráfico, com uso de armas de grosso calibre e envolvimento de adolescentes. Picanço também justificou as prisões ao apontar o risco de reiteração criminosa e o “vasto histórico de infrações” de parte dos investigados. Ao todo, foram decretadas 51 prisões preventivas e medidas cautelares para outros 17 suspeitos, reforçando, segundo o magistrado, a necessidade de conter uma organização criminosa “estável e permanente” que atua em pelo menos 12 comunidades da zona norte do Rio.
Fonte: Com informações da Folha de S.Paulo
Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
