Déficits gêmeos: o que isso tem a ver com a sua vida?
_Desequilíbrio nas contas públicas e externas pressiona o bolso do brasileiro e limita investimentos em saúde, educação e infraestrutura. Especialistas alertam para risco de mais aperto nos próximos anos_
A pouco mais de um ano das eleições de 2026, o Brasil vive um cenário preocupante na economia: o país está enredado nos chamados “déficits gêmeos” — uma combinação de desequilíbrio nas contas internas (fiscais) e nas contas externas (com outros países). Embora o nome pareça técnico, as consequências são bem reais para quem enfrenta juros altos, inflação persistente, menos empregos e serviços públicos com qualidade cada vez mais baixa.
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O que são os déficits gêmeos?
O termo “déficits gêmeos” se refere a dois grandes rombos:
Déficit nominal: quando o governo gasta mais do que arrecada, incluindo os juros da dívida.
Déficit em conta corrente: quando o Brasil envia mais dinheiro para fora do que recebe, somando comércio exterior, serviços e rendas.
Atualmente, os gastos com juros do setor público se aproximam de R\$ 1 trilhão por ano, levando o déficit nominal a mais de 8% do PIB, uma das piores marcas do mundo. Ao mesmo tempo, o déficit externo chegou a 3,5% do PIB. Essa dupla deterioração gera efeitos diretos no dia a dia dos brasileiros.
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Como isso afeta a sua vida?
Juros nas alturas: crédito cada vez mais caro
Para tentar controlar a inflação, o Banco Central mantém a taxa Selic em 15% ao ano — uma das mais altas do mundo. Isso torna:
* Financiamentos de carros e imóveis mais caros;
* Cartões de crédito e empréstimos pessoais praticamente impagáveis;
* O consumo das famílias menor, o que impacta o comércio e o emprego.
> “Os juros são o sintoma mais grave do paciente”, afirma Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central.
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Menos dinheiro para serviços públicos
Com quase todo o dinheiro público indo para pagamento de dívidas e juros, sobra menos para áreas essenciais:
* Hospitais e postos de saúde sofrem com falta de estrutura e pessoal;
* Escolas públicas enfrentam cortes;
* Obras de infraestrutura são paralisadas ou nem saem do papel.
> “A dívida está crescendo rápido porque o governo gasta mal”, afirma Marcus Pestana, diretor da Instituição Fiscal Independente.
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Inflação persistente: o peso no supermercado
Mesmo com juros altos, a inflação continua elevada porque a economia está superaquecida. E quem mais sente são os mais pobres:
* Alimentos básicos continuam subindo;
* Gás, energia e combustíveis também ficam mais caros;
* O salário perde valor e o poder de compra diminui.
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Dólar pressionado e produtos mais caros
Com mais dólares saindo do que entrando no país, o real perde força:
* Importados, como eletrônicos e carros, sobem de preço;
* Combustíveis e insumos industriais encarecem, impactando também os produtos nacionais;
* Investidores ficam inseguros, o que pode travar novos investimentos no país.
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Mais dívida hoje, menos espaço amanhã
A dívida pública já passou de 77% do PIB, e o ritmo de crescimento preocupa os economistas. Se nada for feito, o futuro pode trazer:
* Aumento de impostos;
* Cortes em programas sociais;
* Novo ciclo de recessão e desemprego.
> “A questão fiscal é o calcanhar de Aquiles da economia brasileira”, alerta Livio Ribeiro, economista da consultoria BRCG.
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E agora? O que esperar para 2026 e além?
Embora haja previsão de alívio nos juros e na atividade econômica nos próximos trimestres, especialistas são unânimes: o problema estrutural veio para ficar. A grande incógnita é como o governo vai agir em ano eleitoral — se conterá os gastos ou aumentará ainda mais a dívida para tentar turbinar a economia.
> “O risco é Lula voltar a pisar no acelerador dos gastos em 2026”, resume o economista Samuel Pessôa.
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O que o cidadão pode fazer?
Embora o cenário macroeconômico pareça fora do controle do cidadão comum, algumas atitudes ajudam a se proteger:
* Evitar novas dívidas com juros altos;
* Criar uma reserva de emergência, se possível;
* Acompanhar o debate fiscal e cobrar responsabilidade dos gestores públicos.
Conclusão
Os déficits gêmeos são um sintoma de que o Brasil está vivendo além de suas possibilidades — gastando muito internamente e perdendo competitividade externamente. Para o cidadão comum, isso se traduz em juros altos, inflação resistente, serviços públicos precários e um futuro mais incerto. Entender esse cenário é o primeiro passo para cobrar soluções e se proteger dos efeitos no dia a dia.
