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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Falta de medicamentos ameaça transplantados

Postado em 24 de setembro de 2025 por admin
Geral

 


Pacientes que passaram por transplante de coração no Rio Grande do Norte enfrentam a interrupção no fornecimento de imunossupressores pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). Os remédios, fundamentais para evitar a rejeição do órgão, estão em falta há pelo menos dois meses e, diante do desabastecimento, famílias têm recorrido a doações emergenciais ou ao pagamento de altos valores em farmácias privadas. O problema ocorre em pleno Setembro Verde, mês de incentivo à doação de órgãos, e expõe a fragilidade da rede que deveria assegurar a continuidade do tratamento dos transplantados.

A ausência atinge principalmente medicamentos como a ciclosporina e o micofenolato de mofetila, substâncias consideradas indispensáveis para esse público. De acordo com informações da tabela da Unicat, atualizada diariamente, a ciclosporina está em processo de licitação e o micofenolato aguarda distribuição pelo Ministério da Saúde. Essas lacunas administrativas têm provocado interrupções recorrentes no acesso aos fármacos, que não permitem falhas no uso. Fora da rede pública, o custo mensal pode ultrapassar R$ 1.500, valor inviável para a maioria dos transplantados.

Cristina Fialho, 56, passou pelo transplante em fevereiro de 2023 e hoje sofre com essa falta de medicamentos. “O primeiro ano foi de recuperação, porque meu transplante foi muito complicado e minha situação era bastante crítica. Nesse período, o fornecimento foi regular, recebíamos até mais de uma caixa por mês. Era um serviço muito bom”, conta. Com o tempo, o cenário mudou. “O problema começou em 2024, quando passaram a haver atrasos na entrega e reposição. Medicamentos como ciclosporina e micofenolato de mofetila começaram a faltar. São fundamentais e muito caros”, relata.

Segundo Cristina, a ciclosporina pode custar entre R$ 400 e R$ 500 por caixa. Quando não consegue na rede pública, a saída é contar com doações de outros pacientes ou com estoques emergenciais em hospitais. “Quando há atraso, às vezes conseguimos no hospital em que fiz o transplante. Outras vezes, recorremos a transplantados que cedem doações. Isso gera uma ansiedade absurda”, lamenta.

O drama também atinge José Valdson, 36, que depende do micofenolato de mofetila após o transplante de coração realizado em dezembro de 2023. “A falta pode provocar uma rejeição, pela qual eu passei recentemente, e o sofrimento foi muito grande pra mim e minha família”, afirma. Desde a falta de medicamento no estoque da Unicat, ele só conseguiu seguir o tratamento graças a doações.

Diante disso, José afirma viver sob constante insegurança. “É desesperador, pois antes do transplante eu sofri muito vendo minha vida se indo aos poucos e o medo se instala dentro da minha casa de passar por isso novamente. Tenho uma filha de 6 anos e ela já passou por muita coisa. Tento blindá-la, mas é quase impossível”, detalha.

De acordo com técnicas do Ministério da Saúde, tanto a ciclosporina quanto o micofenolato de mofetila têm uso aprovado para prevenção da rejeição em transplantes cardíacos, renais e hepáticos. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Sesap para esclarecer a situação do fornecimento de imunossupressores aos transplantados cardíacos, mas não houve retorno.


Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Magnus Nascimento