quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Com leitos lotados, falta de remédios, dengue em alta e greve de servidores, crise na saúde do RN só agrava

Postado em 27 de outubro de 2025
Saúde

Falta medicamentos, os remédios são escassos, equipamentos estão quebrados, os insumos são poucos, os leitos dos hospitais estão cheios e os corredores das unidades de saúde pública lotados?

Cirurgias são frequentemente suspensas, há deficiência na escala de profissionais e só aumentam as reclamações por causa do modelo de gestão?

Existe queda nos gastos estaduais com a saúde, o Ministério Público fez denúncias ou instaurou inquéritos para garantir o abastecimento e a implementação de planos de melhoria? A Justiça bloqueou recursos para garantir o básico para o funcionamento da rede de abastecimento médico, atendimento e de internação de pacientes?

Doenças que até pouco tempo estavam controladas voltaram ao noticiário e são novamente uma preocupação para a sociedade, como os casos de dengue, zika e Chikungunya?

Se no estado em que você mora as respostas para boa parte destas perguntas for sim, tá na cara que é impossível esconder: a saúde pública está de mal a pior. 

No Rio Grande do Norte tem tudo isso e muito mais. Todos os problemas listados acima são uma realidade, e com perspectiva de piorar. Não é de hoje que o BNews Natal mostra o agravamento da situação, o sofrimento da população e o caos em que se encontra a saúde pública estadual. 

Superlotação, tomógrafos quebrados, precariedade e processo na Justiça

Na maior unidade de saúde pública do Estado, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, não é novidade alguma os corredores repletos de pacientes e acompanhantes desesperados com a falta de insumos. Do lado de fora, é comum ver ambulâncias paradas porque as macas ficaram retidas servindo de leitos para os acidentados. 

Há duas semanas, a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do RN realizou uma visita ao HMWG. O objetivo foi verificar a inatividade dos dois tomógrafos do hospital. Quebrados, seguem comprometendo os serviços de diagnóstico por imagem.

O deputado estadual Dr. Kerginaldo, que acompanhou a inspeção, criticou a infraestrutura da unidade. Ele disse:

Não há banheiros para acompanhantes, falta de alimentação e manutenção básica. Isso é desumano. Há ausência de gestão e priorização”.

A queixa é feita não apenas por quem está doente. Médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem também engrossam o coro para reclamar da falta de condições de trabalho. O Estado do Rio Grande do Norte, inclusive, foi acionado na Justiça e está sendo processado porque, há 10 anos as condições de trabalho são precárias no Hemonorte, onde os servidores e pacientes estão correndo vários riscos.

A longa e precária situação da estrutura física do Hemonorte é uma realidade que já se arrasta por mais de 10 anos”.

A frase conta em um processo do Ministério Público do Rio Grande do Note, que denunciou o Estado. Por causa do atraso nas obras, a promotora Iara Maria Pinheiro de Albuquerque, da 47ª Promotoria de Justiça de Natal, relatou:

O serviço foi realocado para um espaço improvisado, inadequado e sujeito a interferências externas, gerando risco de erros fatais e comprometendo a segurança transfusional”.

Estado investe menos em saúde 

Somente no primeiro semestre de 2025, houve uma queda de 68% nas despesas pagas com a saúde pública pelo Governo do Rio Grande do Norte. A redução foi de R$ 314,7 milhões, ou seja, foram gastos R$ 673,3 milhões nos primeiros seis meses deste ano contra R$ 988,1 milhões pagos no primeiro semestre de 2024. 

Os números vieram à tona por meio de uma decisão judicial recente, da magistrada Maria Cristina Menezes de Paiva Viana, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Natal, que destacou um “cenário de colapso progressivo na saúde”, agravado por um déficit de R$ 141 milhões nos repasses da Fazenda para o Fundo Estadual de Saúde, colocando o RN na penúltima posição nacional em gastos próprios com a saúde.

Com dengue em disparada, saúde do RN também padece com casos de zica e chikungunya

Não são apenas os casos de dengue — com uma disparada de 41,8% — que vêm tirando o sono da família potiguar. Outras arboviroses que também são transmitidas pelo mosquito aedes aegypti estão crescendo no estado. Zika, com alta de 43,66%, e chikungunya, com uma alavancada de 171,67%, são exemplos.

Sem campanhas permanentes de concientização para alarmar o cidadão, a prevenção acaba ficando em segundo plano e os registros das doenças só aumentam no estado. Os dados completos estão no Painel de Monitoramento das Arboviroses, relatório  atualizado publicado no site do Ministério da Saúde.

Pacientes relatam longas filas e demora na entrega de medicamentos

O caos na saúde potiguar também é visto diariamente na Unidade Central de Agentes Terapêuticos,a UNICAT, onde as pessoas que mais precisam são as que mais sofrem. Há relatos de muita demora no atendimento, descaso e até mesmo ignorância por parte dos servidores que atendem os pacientes. A falta de medicamentos é outro agravante. 

Quando a gente vai procurar algum guichê com atendimento eles nos tratam com ignorância e arrogância. Daí a gente fica a mercê desse descaso”, afirmou Felipe Jeferson, ao ser entrevistado pela reportagem. 

A UNICAT é responsável pela distribuição de medicamentos excepcionais, usados em tratamentos de doenças crônicas e graves, como diabetes, câncer e doenças autoimunes. O serviço atende usuários de todo o Rio Grande do Norte, o que aumenta o fluxo diário na unidade.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde Pública (SESAP) informou que o aumento na demanda e a lentidão no sistema de registro de entrega de medicamentos têm  contribuído para a demora no atendimento.

A pasta afirmou ainda que a unidade tem 40 mil pessoas cadastradas para o recebimento de medicamentos e outros insumos, o que por vezes dificulta o atendimento.   

Greve e protesto

Nos últimos dias foram destaques na imprensa o início da greve e um protesto realizados por servidores da saúde no Estado. No início da semana, funcionários administrativos paralisaram as atividades por tempo indeterminado. A decisão foi tomada de maneira unânime durante assembleia realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do RN, o Sindsaúde/RN. 

Os servidores cobram respostas do governo Fátima Bezerra. A cúpula da Secretaria da Saúde também tem sido alvo de críticas. A categoria considera deficitária a gestão. São algumas das principais reivindicações:

  • Redução da carga horária trabalhada
  • Pagamento de horas extras
  • Criação de vale-alimentação
  • Atualização das gratificações
  • O Sindsaúde/RN afirma também que a decisão de paralisar as atividades é uma resposta à falta de avanços nas negociações e à “inércia do Governo do Estado em discutir as demandas específicas dos trabalhadores administrativos da saúde”.
  • No dia 22 a categoria voltou a se reunir e fez um ato público em frente à sede da Secretaria de Estado da Saúde Pública, a SESAP. A mobilização objetivou pressionar o Governo do Estado a apresentar propostas concretas para as reivindicações da categoria.

Chamado de “arrastão da greve”, o protesto reforçou a pauta apresentada, denunciando a sobrecarga de trabalho e a falta de valorização dos profissionais da área. A categoria exige que a carga horária seja ajustada para 108 horas mensais nas funções de 30 horas semanais e 144 horas mensais nas de 40 horas, pagamento de gratificação de 20% sobre o vencimento básico, reajuste das gratificações de coordenadores e chefias (congeladas há mais de 20 anos), pagamento das horas extras trabalhadas (conforme o Artigo 30 da Lei 694/2022 do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração, o PCCR, além da implementação e pagamento do vale-alimentação, que não existe.

Fonte: Bnews Natal

Foto: ALRN